Coisas da língua
Dr. Cláudio Antônio S. Levada
Juiz do 2º Trib. Alçada Civil
Essa história foi contada pelo Paulo Aranha, grande (fisicamente) e eficiente Oficial de Justiça da Comarca de Jundiaí, além de amigo pessoal dos mais leais, fraternal mesmo.
A veracidade ou não, deve ser cobrada dele, portanto, aviso o caro leitor. Lá vai.
O japonês, sempre desconfiado, achava que o Advogado o estava enganando, pois seu processo de inventário não terminava e ele achava que já era para ter acabado tudo.
Resolveu então ir ao cartório ver pessoalmente seu processo e pediu pelo inventário de seu pai ao serventuário. Ao voltar com a informação, o cartorário avisou que não se tratava de inventário e sim de arrolamento (que é um tipo mais simples de inventário, como sabemos).
O japonês ouviu aquela palavra e disse que, “de jeito nenhum”, ía admitir “enrolamento”, pois já estava cansado de ser enrolado pelo Advogado. Foi preciso muita lábia do cartorário para explicar que ninguém estava querendo enganar o japonês…
Outra do Paulo Aranha é de um devedor de ICM que foi ver seu processo no cartório e o escrevente explicou que o processo “estava na Fazenda” (ou seja, na Fazenda Pública, para alguma manifestação em favor do Fisco). Passada uma semana, o devedor voltou ao cartório e perguntou “se o processo já havia voltado do sítio”, mostrando o quanto a nossa língua nos engana nos seus múltiplos significados, principalmente quando os termos são técnico-jurídicos.
Para terminar, ouvi do prezado Sulaiman (Juiz da 5º Vara Cível de Jundiaí) que tempos atrás a mãe de um réu apareceu, preocupada, pois o filho não tinha pago um financiamento de veículo e o banco pediu a apreensão do carro. Até aí ela concordava, já que o filho não tinha pago mesmo; mas o que ela tinha ído se queixar era que o Oficial de Justiça disse que o juiz tinha determinado uma ordem para “eliminar” seu filho – quando, na verdade o que o juiz tinha determinado era uma liminar contra o caloteiro. Não foi fácil explicar para a mãe que o juiz não tinha mandado matar o fedelho.
Coisas que misturam a riqueza da língua com a ignorância de nosso aguerrido, mas inculto povo.