Há maridos desconfiados que roubam as cuecas às mulheres para as analisarem em laboratório. Outros dão azo ao ciúme com um “kit de infidelidade” comprado na internet e há quem ponha um GPS para seguir e ouvir o parceiro.
Em parte impulsionado por séries televisivas passadas em laboratórios policiais sofisticados, onde qualquer crime é desvendado, este recurso à genética está a crescer em Portugal e tem aplicações cada vez mais variadas e criativas.
Ao Instituto de Medicina Legal de Coimbra chegam com “alguma frequência” maridos com dúvidas sobre a fidelidade das mulheres. E querem esclarecer as incertezas com a “lingerie” da parceira.
Esses homens “querem saber se as cuecas da mulher têm sémen de outro homem”, contou à agência Lusa o presidente do instituto, Francisco Corte-Real.
Nestes casos, o instituto recusa o pedido e só o realiza com o consentimento da mulher, o que “em alguns casos acontece”.
Mas os mais desconfiados encontram cada vez mais e através da internet a possibilidade de esclarecerem as suas dúvidas, mediante testes que, contudo, não têm validade judicial.
Uma simples consulta on-line permite descobrir produtos que prometem “detectar pequenos depósitos de sémen em tecidos (roupa interior, pijama, lençóis) ou outro tipo de materiais, que podem ser deixados pelo homem ou mulher depois de uma relação sexual”. Pelo preço de 66 euros, em promoção, este kit “permite testar cinco a dez peças de roupa para a presença de sémen”.
Também à disposição dos cibernautas mais desconfiados está o “Spy GPS”, um sistema que “permite diariamente que milhares de pessoas com suspeitas de infidelidade nas suas relações saibam de forma precisa o percurso e localização exacta dos seus parceiros de forma confidencial, acessível e legal”. Por 379 euros, este sistema vende a possibilidade de “saber de forma discreta e exacta o paradeiro da sua parceira como também a escuta de conversas que esta possa manter”.
Francisco Côrte-Real recorda que estes pedidos de testes genéticos, neste caso para esclarecer dúvidas de infidelidade, tiveram um ‘boom’ há meia dúzia de anos, quando começaram a surgir séries de televisão passadas em meio forense, os CSI (Crime Sob investigação).
Desde então, os pedidos “não têm diminuído”, afirmou.
Sobre os preços no mercado on-line, Francisco Côrte-Real reconhece que são bem mais baixos do que os praticados pelo institutos de medicina legal e que “a qualidade não se compara minimamente” com a disponibilizada por este instituto público.
Só os testes realizados nestes institutos têm, inclusive, validade judicial.
(contribuição do Dr. Vasco Câmara)
Diário de Notícias – Ilha da Madeira – 13.06.2010